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Chegada a São Sebastião da Boa Vista

Ao chegarmos a Boa Vista, conhecemos o bar Porto Seguro, da dona Silvana. Ela nos falou de seu quintal riquíssimo em frutas e nos trouxe amostras: bacuri, cacau e outras.

Prometeu nos preparar sopa de camarão e tira-gosto de turu (pelo que entendi, uma espécie de marisco que vive no tronco das árvores).

Ao contrário dos conquistadores espanhóis e portugueses, que trocavam espelhos por riquezas locais, saquei da mochila o “Espelhos”, mais recente obra do Eduardo Galeano, e pela ótima prosa entreguei duas crônicas: sobre a origem do nome do rio Amazonas e sobre o cacau. 

Amazonas

     As amazonas, temíveis mulheres, tinham lutado contra Hércules quando ele ainda era Heracles, e contra Aquiles na Guerra de Tróia. Odiavam os homens e cortavam o seio direito para que suas flechadas fossem mais certeiras.  

     O grande rio que atravessa o corpo das Américas de lado a lado se chama Amazonas por obra e graça do conquistador espanhol Francisco de Orellana.

     Ele foi o primeiro europeu que o navegou, lá de dentro da terra até mar afora. Voltou para a Espanha com um olho a menos, e contou que seus bergantins tinham sido crivados a flechadas por mulheres guerreiras, que lutavam nuas, rugiam como feras e quando sentiam fome de amores seqüestravam homens, os beijavam na noite e os estrangulavam ao amanhecer.

     E para dar prestígio grego ao seu relato, Orellana disse que elas eram aquelas amazonas adoradoras da deusa Diana, e com seu nome batizou o rio onde tinham seu reino.

     Os séculos se passaram. Das amazonas, nunca mais ninguém soube. Mas o rio continua com o seu nome, e embora a cada dia o envenenem os pesticidas, os adubos químicos, o mercúrio das minas e o petróleo dos barcos, suas águas continuam sendo as mais ricas do mundo em peixes, aves e histórias.

 

amazonas

 

 Servos e senhores

     O cacau não precisa do sol. Porque o traz por dentro.

     Do sol de dentro nascem o prazer e a euforia que o chocolate dá.

     Os deuses tinham o monopólio do espesso elixir, lá nas alturas, e nós, os humanos, estávamos condenados a ignorá-lo.

     Quetzalcóatl roubou-o para os toltecas. Enquanto os outros deuses dormiam, ele pegou umas sementes de cacau e as escondeu em sua barba e por um longo fio de aranha desceu até a terra e as deu de presente à cidade de Tula.

     A oferenda de Quetzalcóatl foi usurpada pelos príncipes, pelos sacerdotes e pelos chefes guerreiros.

     Apenas os seus paladares foram dignos de recebê-la.

     Os deuses do céu tinham proibido o chocolate aos mortais, e os donos da terra o proibiram para as pessoas comuns e correntes.

cacau

Eduardo Galeano, “Espelhos – uma história quase universal”.

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Marajó

Muito impressionante. Não apenas no sentido de surpreendente. Sobretudo, no que causa de impressões. Variadas, múltiplas de sentido (cheiros, gostos, imagens, umidade na pele) e sentimentos.

Uma viagem – e vários lugares – para não esquecer.

Quase onze horas no Bergantim III, de Belém a São Sebastião da Boa Vista, situada na parte sul da Ilha de Marajó.

Um bar onde lê-se o aviso: É PROIBIDO BEBER BEBIDAS FORTES.

bar

Um emaranhado de redes de dormir que desafia a física.

redes

Exatamente após treze escalas, em comunidades – ou, simplesmente, mercearias, como a “Vitória da Fé” – ribeirinhas, atracamos no porto de São Sebastião da Boa Vista. Ou apenas Boa Vista, como chamam os íntimos.

mercearia

Município de aproximadamente 20 mil habitantes, de ruas limpas e bem calçadas, pessoas bem receptivas e alegres. Ficaremos por aqui, seja na cidade, seja no povoado Pedras, até quarta-feira.

praca

Aliás, o objetivo da viagem é entregar à população de Pedras um conjunto de equipamentos para projeção audiovisual. O povoado ganhará um cinema.

Somos um total de onze pessoas na equipe composta por gente do MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário) e do MinC (Ministério da Cultura).

Expectativa de uma grande semana!

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